segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Conta a ser Paga

"Choremos os nossos mortos.
 E vamos à praia pegar um bronze porque o carnaval está chegando."
Do Blog do Noblat



"Se todos são culpados pela repetição de tragédias como a da região serrana do Rio de Janeiro – o Estado e o povo que mora em áreas de risco -, ninguém é culpado. Choremos, pois, os mortos. E vamos à praia pegar um bronze porque o carnaval está chegando.

 No ano passado, quando tragédias parecidas mataram entre janeiro e abril 53 pessoas em Angra dos Reis e 47 em Niterói, o governador Sérgio Cabral falou em “crônica de uma morte anunciada”. Culpou o volume das chuvas e a ocupação de áreas de risco.

Justificou-se por só ter visitado Angra 24 horas depois do dilúvio: “Eu não faço demagogia. Em Angra estavam dois secretários da área. Quem deve vir são as autoridades públicas que podem dar solução e comando ao problema”.

Talvez fosse bom ouvi-lo sobre seu esforço de desta vez marcar presença nas áreas flageladas. Ele esteve por lá com Dilma. E depois mais duas vezes. Ou deu uma de demagogo ou assumiu a condição de autoridade que pode “dar solução e comando ao problema”.

Em novembro do ano passado, o governo brasileiro confessou à Organização das Nações Unidas por meio de extenso relatório que “grande parte do sistema de defesa civil do país vive um despreparo e não tem condições sequer de verificar a eficiência de muitos dos serviços”, como noticiou o jornal O Estado de S. Paulo.

Do relatório: "A falta de planejamento da ocupação e/ou da utilização do espaço geográfico, desconsiderando as áreas de risco, somada à deficiência da fiscalização local, têm contribuído para aumentar a vulnerabilidade das comunidades locais urbanas e rurais, com um número crescente de perdas de vidas humanas e vultosos prejuízos”.

E por fim: "Quando não se priorizam as medidas preventivas, há um aumento significativo de gastos destinados à resposta aos desastres. O grande volume de recursos gastos com o atendimento da população atingida é muitas vezes maior do que seria necessário para a prevenção”.

Encomendado pelo governo do Rio, um estudo de novembro de 2008 alertou para os riscos de a região serrana passar em breve pelo que está passando. Os lugares apontados como os de mais elevado risco foram Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo.

“A hora não é de buscar bodes expiatórios”, ditou Cabral antes que o número de mortos na região serrana batesse na casa dos 600. A hora é, sim, de se nomear culpados e de processá-los. Um americano que quebre o pé num buraco que a prefeitura não fechou vai à Justiça e arranca gorda indenização.

Aqui, o descaso do Estado mata e tudo fica por isso mesmo."

5 comentários:

  1. E enquanto isso as pessoas continuam perdentdo tudo o que levaram uma vida para construir, além de perderem também seus entes queridos, quando não a pŕopria vida nessa tragédia. E o governo não vai tomar providência pratica alguma para evitar que tal ocorra novamente. É triste!

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  2. septuagenário17/01/2011, 17:35

    O Estado do Rio de Janeiro é a região do mundo com as belezas naturais mais diversas em quantidade tal, que não deve existir coisa semelhante noutro lugar.

    Microclimas tão diversos ao lado uns dos outros, que podemos estar em poucos minutos em fato de banho e logo com agasalhos de cachecol.

    É pena que parte desse paraíso, os homens estão destruindo.

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  3. Enquanto os agentes públicos não forem responsabilizados pessoalmente pelos seus atos, omissões, irresponsabilidades, inconsequências, venalidades, má-gestão, etc. esses descalabros continuarão a acontecer. A responsabilidade será do "Estado". Como se pune o "Estado"? Até lá, vamos continuar chorando os mortos, vamos ser solidários e vamos preparar o bronzeado para o próximo carnaval.

    Maurilio

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  4. Meu caro Septuagenário,
    O Rio de Janeiro é mesmo ciclotímico, terra de extremos. De cordialidade e de violência, de beleza e horror, de descaso e capricho, de fatos de banho e cachecol.
    Hoje nos indignamos, amanhã vamos ao ensaio da escola de samba.
    É uma grata satisfação reencontrá-lo nas páginas deste blog.
    Seja muito bem vindo de volta.


    Oi, Maurílio.
    É flórida, não é? Como diria Odorico Paraguassú, há que se deixar de lado os abstracionismos e partir logo para as concretudes.
    Uma beijoca


    Oi, Sentindo e Pensando.
    Me lembrei de um personagem do Jô Soares de antigamente, cujo bordão era "quem mandou votar no homem?"
    Taí no que deu.
    Um abraço.

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  5. Todo ano a mesma coisas e os politicos e a sociedade, sim a sociedade também, não podemos excluir-lhes a culpa só pq perderam e sofrem com as tragédias. Mas enfim, todo ano eles continuam repetindo os mesmos erros e depois da tragédia, surpreendem-se como se nunca pudessem imaginar que isso aconteceria.

    Pelo amor... sinto muito pelas perdas, mas não consigo mais ter dó de especuladores que continuam construindo em encostas e APPs.

    Como bem lembrou uma funcionária da ONU, o Brasil só tem um tipo de catastrofe natural e até hoje não aprendeu a lidar com ela. Imagine se tivesse vulcões, tsunamis, furacÕes e etc...

    Também vale lembrar que as enchentes na Australia foram de proporçoes muito maiores que as da região serrana, Pq será que lá o número de mortes foi tão pequeno comparado ao Brasil?

    Momento revolta :(

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