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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O fogo da Quimera


A Quimera era um terrível monstro que expelia fogo pelas narinas e devastava as planícies da Anatólia.  Tinha três cabeças, todas diferentes, corpo de leão e cauda de serpente. Uma mistura de DNAs  tão exdrúxula que, até hoje, chamamos de “quimera” todas as coisas aparentemente muito fantasiosas ou de existência improvável.

A Quimera causava grandes estragos no reino da Lícia, cujo rei, Iobates, estava empenhado na procura de um herói que pudesse derrotá-la.

Eis que, num belo dia, aparece por lá um charmoso herói-galã chamado Belerofonte,  muito recomendado por Preto, genro do rei. 

Na verdade, o que Preto queria mesmo era livrar-se do herói.  Belerofonte e a mulher de Preto, Antéia,  haviam se enrolado  numa história palaciana muito mal contada, cheia de intrigas, na qual se  misturavam  a fúria da mulher desprezada e  os ciúmes do marido traído.  E Preto escreveu uma carta ao sogro pedindo-lhe que se encarregasse de matar Belerofonte.

Para atender ao pedido do genro, Iobates resolveu mandar o herói enfrentar a Quimera.

Belerofonte topou a parada mas, como não era um sujeito completamente idiota, foi antes pedir ajuda aos deuses. Com a intervenção de Minerva,  adonou-se do cavalo alado Pégaso e, montado nele, conseguiu a vitória sobre a Quimera.

Belerofonte acabou se casando com a filha de Iobates, a Princesa Filone,  e poderia  ter vivido feliz para sempre  se.... a soberba não tivesse falado mais alto.

Ofuscado pelos próprios sucessos e aspirando a imortalidade,  Belerofonte  decidiu voar até a morada dos deuses, montado em Pégaso.  Zeus, no entanto, para castigar tamanha arrogância, mandou  uma mosca atormentar o cavalo alado até que este  derrubasse o seu cavaleiro.  Cego e coxo em decorrência da queda,  Belerofonte  acabou seus dias vagando sozinho pelo mundo na mais completa miséria. 

.........

O local onde Belerofonte matou a fera fica na Turquia, à beira do Mediterrâneo, pertinho  de um vilarejo chamado Çirali.   Ali, bem no alto de um morro, o fogo eterno da cabeça da Quimera  ainda brota do chão.  As pessoas costumam subir até lá à noite, quando as chamas são mais vistosas e a escuridão revitaliza a magia. 
   
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A história pode ser bonita  mas o programa é uma grande roubada. Ganhou cinco machadinhas do Guia Michelíndio.


 Esta é a praia de Çirali. Ao fundo, o monte da Quimera. 

 A trilha até o topo é íngreme e difícil. No escuro é pior, apesar do serviço de locação de  lanternas ao pé do morro. 

O fogo eterno: lá em cima existem várias fogueirinhas como essa. 



terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Meke Gölü





Ouvi falar que foi neste lugar que teve origem a lenda do olho turco. Não sei se procede, mas é mesmo possível  que o cenário tenha inspirado o design.   É a cratera de um vulcão e fica perto de Karapinar,  a uns 90 km a leste de Konya.

A área branca ao redor do cone do vulcão é puro sal, mas já foi um lago azul.  É como se costuma ver nas fotos. ["gölü" significa "lago"] 

Esta é do Google Imagens

O nome turco deste amuleto contra o mau-olhado é "nazar boncuk". Quando a energia ruim bate forte, ele se quebra.

sábado, 3 de dezembro de 2011

O Parque Nacional de Göreme

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Göreme é muito diferente de tudo o que eu já tinha visto antes. Fica na Capadócia, região central da Turquia, e é considerada patrimônio da humanidade desde 1985.

Imagine uma paisagem extra-terrestre.

Imaginou?

Göreme é assim. Até dá para entender porque São Jorge, depois de morto, resolveu morar na lua: para matar saudades da sua terra natal.





Fomos até lá para voar de balão, e posso dizer (quase) sem hesitar que foi o passeio mais bonito que já fiz na vida.  Mais bonito que mergulhar em Noronha.
Acordamos de madrugada, uma van foi nos buscar no hotel. Os balões saem ao amanhecer, aproveitando o friozinho da noite e as correntes de ar produzidas pelo calor do sol nascente.  É um espetáculo - como diriam os antigos - inefável. Um deslumbramento.





Os vôos de balão são a atividade turística mais bem resolvida que vi na Turquia, com infraestrutura muito profissional.

As formações rochosas de origem vulcânica são impressionantes.  Nos primeiros séculos da era cristã começaram a ser escavadas e usadas como moradia, esconderijo e lugares de culto. Muitas cavernas ainda hoje são habitadas, e algumas têm sido  adaptadas como hotéis e pousadas na vila de Goreme.


 Caprichos da Natureza

Energia Yin

E Yang

A charmosa vila de Göreme

Conforto e modernidade nos hotéis-caverna. 

Balões são espetáculo também para quem não voa.

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Ficha Técnica:

1 - Balões: Contratamos o "Deluxe Ballon Tour" da  Göreme Balloons (www.goremeballoons.com). O vôo durou um pouco mais  de uma hora e meia, em um balão com capacidade para 10 pessoas. São 5 de cada lado da cestinha e todo mundo tem lugar na borda. 

2 - Outros passeios imperdíveis em Göreme são o Museu a Céu Aberto e a Cidade Subterrânea. As agências locais organizam vários roteiros.  Vale reservar 3 dias para desfrutar de tudo.


terça-feira, 8 de novembro de 2011

Sanliurfa e Göbekli Tepe



Sanliurfa é uma cidade curiosa, no sudeste da Turquia, numa região conhecida como Curdistão turco. Antigamente se chamava Edesa.  

Consta ter sido a terra natal de Abraão, o que lhe confere importância religiosa para judeus e muçulmanos  e potencial turístico como pólo de peregrinação.  

Dizem também que  Jó teria andado por lá, depois que ficou pobre.

Este é o tanque (ou piscina) de Abraão. Cheio de carpas. 





O menino vende comida para peixes.

A uns 20 km de Sanliurfa fica Göbekli Tepe, que numa tradução livre,  significa algo como o “morro do umbigo”.  

É um sítio arqueológico onde pesquisadores alemães estão desencavando um conjunto de templos religiosos com  mais de 11 mil anos de idade,  os mais antigos monumentos arquitetônicos  já descobertos.
  
Göbleki Tepe é um mistério para os que se dedicam a estudá-lo. As pedras são cortadas com precisão e exibem baixos-relevos de animais, coisas muito sofisticadas para uma época em que,  até onde se sabe, os seres humanos ainda eram nômades, não conheciam a agricultura,  a escrita, o metal, a cerâmica ou a roda. Ou seja, Göbekli Tepe não se encaixa no tempo, está fora de contexto.  

Prato cheio para quem tem espírito de Indiana Jones e se emocionou com as aventuras da arca perdida. 


Parece mesmo um umbigo, não é? Ou um rodamoinho? 


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Programão: Nemrut dagi


O dia amanheceu lindo. Deixamos o hotel às oito.  Às oito e vinte estávamos saindo da cidade (Erzincan), admirando a linda paisagem dos arredores.

[Se houver uma próxima vez, darei um tempo em Erzincan para um rafting 
pelo Rio Eufrates.]  



Às 13:30 fizemos a primeira parada para um xixi e uma água mineral.
Foi rapidinho, tipo vapt-vupt,  tempo suficiente para bater umas fotos e esquecer em cima do balcão a capa da máquina fotográfica, contendo um cartão de memória de 8 gigas novinho em folha e uma bateria suplementar recém-carregada.



Esqueci aqui.

Das 13:45 às 15:30,  de volta ao carro, prosseguimos até o Monte Nemrut, parque nacional considerado pela Unesco como patrimônio mundial desde 1987.

São 2.260 m de altitude e lá em cima estão as ruínas de um monumento funerário  mandado construir pelo rei Antíoco,  no ano 60 a.c., com estátuas gigantes que o representam e imortalizam ao lado de deuses e heróis mitológicos.  Consta ter sido realizado como um presente às futuras gerações e um tributo de agradecimento aos seus antepassados  e deuses protetores.
  
Enfrentamos um trecho de estrada bem perigoso, em manutenção, com máquinas na pista, parte dele recém pixado.  

Adorei o detalhe do sapatinho da pastora. 

Ai, ai! Pobre pintura do nosso “Jetta-quase-novo”!

Das 15:30 às 16:30, visita às ruínas de Nemrut Dagi.








Quanto à infra-estrutura, nenhuma indicação, nenhuma placa, nenhum banheiro, nenhuma barraquinha para vender água mineral, ninguém que soubesse falar inglês.  Necas de catibiriba.

Este é o trailer do vigia.

Das 16:30 às 22:30, carro de novo, sem almoço, até o hotel em Sanliurfa.

Valeu a pena?
Já disse o Fernando Pessoa que "tudo vale a pena, se a alma não é pequena".
Ele bem sabia das coisas. 





quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Pit stop em Zigana



Saindo do mosteiro Sumela até  Erzincan, onde deveríamos pernoitar, são uns 200 km de serra. O percurso é lindo, mas existem muitos trechos em obras. Às vezes a estrada fecha, esperando explodirem alguma pedreira, ou por segurança mesmo, em vista dos deslizamentos supervenientes.  
Quero dizer com isso que situações inesperadas sempre acontecem, mesmo quando fazemos as coisas “by the book”.  Quando não fazemos....

Por motivos de desordem operacional ficamos sem gasolina. Deveríamos ter abastecido em Maçka, antes de chegar ao monastério e deixamos para depois. Subimos os 15 km da estradinha que leva ao mosteiro com o tanque já na reserva, com luzinha acesa. Na descida, de volta a Maçka,  ups! Passou.  No próximo posto a gente pára.

O próximo posto - descobrimos depois - ficava em Torul, a 53 km de Maçka.  E considerando os 30 km percorridos entre Maçka e o mosteiro, ida e volta,  seriam 83 km rodando só no cheiro. Nem mesmo um Jetta-quase-novo seria capaz dessa façanha.

Paramos em Zigana, um lugarzinho beira de estrada, para resolver o que fazer.
Primeiro o mais urgente: um WC.  Me indicaram um estabelecimento todo tapetado, cheio de kilins, onde tive que tirar os sapatos para entrar. Nunca tinha visto nada igual antes. Nem parecido.



Um problema imediato a ser resolvido: Porta da direita ou da esquerda? Nesse dia aprendi que  em turco eu sou “bayan”.




Fomos carinhosamente acolhidos no restaurante, enquanto alguém providenciava um suprimento de gasolina que nos levasse até o próximo posto.  Mais tarde ficamos sabendo tratar-se de um local muito conceituado pela excelência da sua tradicional culinária turca.   Por ignorância, ficamos só no chá.




Não guardei o nome do restaurante, mas fica fácil de achar com esse fusca pendurado na porta.



No fim tudo se resolveu. Sei que generalizações são perigosas, mas os turcos se mostraram simpáticos, solidários e cooperativos durante toda a viagem. Como nenhum outro povo que eu conheça. A partir desse momento decidi que mais ninguém falará mal deles perto de mim.  Never more.