quarta-feira, 26 de maio de 2010

No Butão

O mundo gira, a lusitana roda e o tempo não pára. Na próxima segunda-feira embarco para mais uma viagem e aqui no blog só agora cheguei ao Butão. A defasagem está grande, com tendência a piorar.

Para adiantar o expediente, vou aproveitar e reciclar a narrativa que mandei para o Rede Furada, blog nota 10 baseado em Santo André - Bahia, a pedido da sua editora-chefe, Olímpia, minha amiga, ex-vizinha e colega de trabalho, ora de férias em Nova Iorque, a capital cultural do ocidente .



O Butão é um país curioso, que começou a receber turistas há pouco tempo. A primeira coisa que me chamou a atenção é haver um portal de entrada, quase um arco do triunfo, todo trabalhado em madeira, cuidadosamente pintado. Eu estava dentro do ônibus, não consegui uma boa foto. Existem apenas três pontos de fronteira terrestre, todos com a Índia. Este é o de Phuntsoling.


A cidade da foto acima é Thimphu, a capital. Fica em um vale, como todas as demais cidades que visitei. É só o que se vê: vales e picos altíssimos. Thimpu está a 2.300 m de altitude e tem uns 80 mil habitantes. É capital desde 1962, quando foi aberta a primeira rodovia do país, ligando o Butão à Índia.

Para se ter uma idéia de como o Butão era fechado (*), até meados do século 20 não existia uma moeda nacional, e o comércio era todo feito à base de trocas. O ngultrum só foi criado por volta de 1940/50.


O Butão é o último reino budista do mundo. A dinastia atual começou no início do século XX, e está na 5ª gestão. O 3º rei foi considerado o pai do Butão moderno. Aboliu o sistema de castas e o feudalismo rural, promovendo uma reforma agrária.

O 4º rei idealizou o conceito e a medida de Felicidade Interna Bruta - FIB, para direcionar as ações de governo. Foi uma grande sacada que mereceu reconhecimento internacional em círculos políticos e acadêmicos.

Uma das ações de governo orientadas pelo FIB foi a introdução da monarquia constitucionalista em 2008. Por iniciativa do próprio rei (o 4º), o Butão prepara-se para migrar de um regime totalitário para um regime democrático, sem traumas. A constituição butanesa instituiu uma assembléia nacional e criou a figura do primeiro-ministro como chefe de governo. Estabeleceu também a idade limite de 65 anos para o rei, que deve obrigatoriamente renunciar em favor de seu herdeiro. Se o herdeiro revelar-se um mau governante, poderá ser substituído por outro membro da família real, eleito pela assembléia.

O 4º rei renunciou em favor de seu filho aos 55 anos de idade. O rei atual (o 5º ) estudou em Oxford, tem 31 anos e ainda é solteiro. [Atenção, meninas! A poligamia é admitida, mas precisa ser consensual.]


Isso que você está vendo é mesmo o que você está pensando. As construções obedecem a um padrão tradicional, são cheias de bordadinhos, e trabalhos em madeira. O código de obras é rigoroso e não admite modernices exageradas. Pinturas nas casas e muros são freqüentes, com muitos falos pendurados nos telhados, balançando ao vento...



O animal é o Takim, só existe por lá. Na verdade, é o único animal do Jardim Zoológico de Thimpu. Em 1991, atendendo a uma reivindicação popular, o rei mandou abrir as portas das jaulas e libertar todos os bichos. Manter animais em cativeiro envergonhava os budistas butaneses. Só ficou o Takim, porque precisava de proteção contra seus muitos predadores.



Este é o traje nacional masculino, chamado Ghogo (pelo menos foi isso o que anotei). É uma espécie de roupão. As dobras das mangas são usadas como bolsos e quase todos os homens usam.



A foto acima é do Punaka Dzong, um edifício lindo, de 1673, onde funcionam um mosteiro budista e a administração regional. Fica na junção de dois rios, um rio macho, mais rápido (o da esquerda) e um rio fêmea, tranquilo (à direita). Todos precisam se trajar adequadamente para entrar no Punaka Dzong. Vale dizer, nada de turistas de chinelo, shorts, bermudas ou camisetas de alcinha. Os homens butaneses precisam usar uma espécie de echarpe branca, equivalente à nossa gravata.


O único aeroporto do país fica na cidade de Paro, que tem 44 mil habitantes. Foi construído em 1983 e apenas a Druk Airlines, a companhia nacional,  tem autorização para operar ali. A Druk possui atualmente uma frota de dois aviões (quase novos) e voa para Calcutá, Nova Delhi e Katmandu. A rota para Katmandu passa ao lado do monte Everest.



O Butão é o segundo país que conheço que apenas recentemente, e com um atraso considerável, iniciou um processo de abertura, modernização e inserção internacional. O primeiro foi Angola.

Apesar das diferenças históricas e culturais estratosféricas entre os dois países, para mim é muito difícil deixar de fazer comparações. O Butão não possui os recursos naturais que Angola tem. Sua economia é limitadíssima, baseia-se na venda de energia elétrica para a Índia. Sua população também é pequena, embora igualmente pobre.

O que faz diferença, até onde eu consigo ver, é 1/ a honestidade de propósitos e a intenção de fazer o que seja melhor para o benefício coletivo; 2/ o desejo e a humildade de aprender tudo o que for possível, de aproveitar os erros, acertos e experiências de outros países; e 3/ o espírito de solidariedade e de fraternidade que fazem o SER mais importante do que o TER.

Perguntei a uma garçonete de hotel se ela era feliz e qual seria a medida de sua felicidade, numa escala de 0 a 10. Para meu espanto, ela não se espantou com a pergunta. Deu-se nota 5. Perguntei então o que a faria mais feliz do que 5. Ela disse que morava no hotel, um pouco afastado da cidade, e lá passava a semana inteira. Gostaria de morar mais perto de casa, de poder estar com a família mais freqüentemente. Isso aumentaria sua felicidade.

E você? O que faria você mais feliz? Ganhar a mega-sena?

Eu adorei o Butão, acho que estão no caminho certo.

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(*) Sem trocadilhos, tá?

4 comentários:

  1. Com certeza ir para o Butão me faria imensamente feliz :)))

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  2. Você iria gostar. Iria não. Vai.
    :)

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  3. Que viagem bacana! Eu também andei rodando por aí e cheguei bem no dia do jogo contra a Costa do Marfim.
    O que me faria mais feliz? Acho que poder passar o resto da vida na estrada.
    beijos

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  4. Oi, Mari.
    Também tenho acompanhado atentamente as suas aventuras pela gringolândia, ainda não conheço os lugares por onde você passou. Viajar é mesmo tudo de bom.
    Beijocas

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