sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sobre o budismo, budistas, golpes e politicagens

Este post é só uma tentativa de sistematizar algumas anotações que fiz durante a viagem, nada mais. Sem pretensão, porque é tudo muito complicado. Já acho difícil entender as sutilezas doutrinárias que diferenciam os muitos ramos do cristianismo [que conheço desde criancinha], o que dirá do budismo!

Assim, se alguém quiser corrigir, complementar ou explicar alguma coisa, que fique à vontade. Só não vale confundir, certo?



O budismo iniciou-se na Índia, com o príncipe Sidarta Gautama, por volta do século V a.c. Os seus ensinamentos baseiam-se em quatro nobres verdades:

1 - o sofrimento existe;
2 - a origem do sofrimento é o desejo;
3 - o fim do sofrimento é possível;
4 - o caminho que conduz ao fim do sofrimento compreende oito vertentes:
1 - consciência correta
2 - intenções corretas
3 - palavras corretas
4 - conduta correta
5 - modo de vida correto
6 - esforço correto
7 - atenção correta
8 - meditação correta

Os lugares sagrados do budismo são:

- Lumbini, no Nepal, onde Buda nasceu;

- Budhgaya, na Índia, a 300 km de Varanasi, onde atingiu a iluminação;

- Sarnath, em Varanasi, onde fez a sua primeira pregação e revelou as quatro nobres verdades (estive lá);

- Kusinagar, na Índia, onde faleceu.

Existem várias correntes budistas, cada uma delas com suas subdivisões. As principais correntes são a Theravada, majoritária no sudeste asiático (Laos, Cambodja, Vietnam, Mianmar, Tailândia, etc) e a Mahaiana.

O Budismo Tibetano pertence à corrente Mahaiana, e recebeu influências do hinduísmo e do tantrismo. Também é chamado de Lamaísmo, porque dá uma ênfase muito forte à relação mestre/discípulo. Compreende quatro escolas diferentes:

1 - Nyingmapá (chapéu vermelho)

2 - Kargyupá (chapéu vermelho ou preto)

3 - Sakyapá (chapéu vermelho)

4 - Gelugpá (chapéu amarelo)

A escola Kargyupá é a predominante no Butão. O templo mais importante é o monastério Rumtek, no Siquim. Seu líder é chamado Karmapá. Por alguma razão que não compreendi, o Karmapá foi banido de Rumtek pelo governo indiano e proibido de retornar ao Siquim. Li em algum lugar que o patrimônio do monastério é bastante respeitável.

Existem duas pessoas atualmente entronizadas com o título de 17º Karmapá: Ogyen Trinley Dorje e Trinley Thaye Dorje. A questão é controvertida. Ogyen Trinley Dorge recebeu o reconhecimento do Dalai Lama, está exilado na Índia (mas não pode ir ao Siquim) e - segundo consta - está sendo preparado para sucedê-lo como líder máximo do budismo tibetano. Mas não vai herdar o título.

A escola Gelugpá é a escola liderada pelo Dalai Lama. Tenzing Gyatso é o 14º Dalai Lama, ou a 14ª encarnação do Buda da Compaixão, líder máximo político e religioso do Tibete, exilado em Dharamsala, na Índia, desde 1959.

O número dois da hierarquia budista na escola Gelugpá é o Panchen Lama, a segunda autoridade religiosa do Tibete, sem funções políticas. Quando o 14º Dalai Lama teve que abandonar o Tibete, o 10º Panchen Lama caiu nas mãos dos invasores chineses que tentaram cooptá-lo como colaborador do regime, sem sucesso. Morreu em 1989, de causas não muito bem explicadas.

O sucessor da linhagem, ou seja, a reencarnação do 10º Panchen Lama, reconhecida pelo Dalai Lama, chama-se (ou chamava-se) Gendum Choekyi Nuyma. Foi raptado em 1995 pelos chineses, aos seis anos de idade, e nunca mais foi visto. É considerado prisioneiro político.

Em seu lugar, o governo chinês escolheu outro sucessor para o Panchen Lama, que foi entronizado como o 11º Panchen Lama. Chama-se Bainqen Erdini Qoigyijabu e está exercendo publicamente suas funções. Outro dia foi visitar as vitimas do terremoto que aconteceu no Tibete quando eu estava lá (a 1.000 km de distância, felizmente).

A impressão que me ficou é que os chineses querem transformar o 11º Panchen Lama em autoridade política no Tibete, para suceder o Dalai Lama, mesmo que a tradição budista não respalde a pretensão. Hoje, a liderança do Dalai Lama é incontroversa. Quando ele morrer... vai ser briga de foice no escuro.

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