domingo, 3 de maio de 2009

Insatisfação angolana

“Mais ou menos”, é o que ordinariamente se ouve ao perguntar a um angolano como está, ou como tem passado.
- Mais ou menos...
No início eu me preocupava. Puxa! Se pergunto a alguém como vai e ouço um “mais ou menos” como resposta, imagino sempre alguma coisa grave, problemas de saúde, situações familiares, coisas da vida a necessitar de compreensão, apoio ou ajuda.
Já desencanei. Aqui, o “mais ou menos” equivale ao nosso “tudo bem”. Nada especial, rotina pura.

Para os brasileiros, dizer que está “tudo bem” é quase uma obrigação. Expressa um desejo, para além de preservar a intimidade quando nada está bem.

Daí, o “mais ou menos” angolano soar como a demonstração de uma insatisfação atávica, profunda, essencial.

- Mais ou menos? O que aconteceu? Posso ajudar?
- Não, tudo certo, tudo normal.
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Ontem no rádio ouvi uma história ilustrativa dessa insatisfação angolana.

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Dizem que Jesus resolveu voltar à terra, para fazer mais alguns milagres.
Escolheu como centro de atividades o hospital central de Luanda.
Ao chegar, deparou-se com um corredor cheio de pessoas buscando atendimento, e um médico plantonista muito cansado, depois de 24 horas de serviço contínuo.
Jesus vestiu-se então de médico, atravessou o corredor lotado e entrou no consultório como substituto do plantão.
- O próximo, gritou.
Entra no consultório um paraplégico numa cadeira de rodas.
Jesus olha bem em seus olhos, ergue a mão direita e diz:
- Meu filho, levanta-te e anda!
E o homem levantou-se e andou.
Andou e saiu caminhando do consultório, para atravessar o corredor lotado.
Um paciente na fila pergunta:
- Como é esse médico novo? Bom?
- E o homem responde:
- É como todos os outros. Sequer me examinou.
............................


(Brincadeirinha, viu, gente? E quem contou foi um angolano.)






4 comentários:

  1. Parece-me que escrever -- qualquer coisa, mesmo um mero blog -- é incompatível com o "politicamente correto".
    Confesso que achei a piada engraçada, rs, rs..(amarelo?)

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  2. Ora bem lol, a resposta "mais ou menos" comecei a ouvi-la ainda na universidade. E não eram os angolanos que assim respondiam. Era o nosso caríssimo colega guineense Nelson Mendes. Cada vez que qualquer um de nós lhe perguntava como estava, respondia sempre mais ou menos. Até que um dia, enchi-me de coragem e perguntei-lhe porque é que respondia sempre daquela maneira. Naturalmente, disse-me que nem sempre tudo estava bem, nem sempre tudo estava mal, por isso mais ou menos... lol

    Quanto à piada, está bem apanhada sim senhora ;)

    Gostei muito do teu logotipo.

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  3. Existe artesania em cerâmica em Angola?
    Não vale responder "mais ou menos"...

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  4. Obrigada, Miguel. Também achei que ficou mais ou menos...;)

    Olímpia, por aqui a cerâmica é uma atividade em vias de extinção. Existir existe, mas muito pouca coisa. Qualquer dia faço um post...

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