quinta-feira, 9 de abril de 2009

Sobre morar em Luanda

Moro numa “vivenda”, que divido com um colega recém-chegado à cidade. A casa é grande, são três andares, quatro quartos e um anexo com mais dois quartos. Todos reservados pela empresa para consultores hoje ausentes, em fase de renegociação de contratos, ou para supervisores de projeto que aparecem eventualmente.

A administração está a cargo de uma firma especializada, que faz a manutenção, paga contas e contrata empregados: temos fixos uma governanta, uma cozinheira, uma arrumadeira e um jardineiro. Os moradores são por eles chamados de “hóspedes”. Temos também três vigilantes que se revezam em turnos, contratados por uma empresa de segurança. E um número variável de motoristas, a depender da quantidade de moradores (hóspedes) e de carros à disposição. Pertencem aos quadros de uma terceira empresa. Nunca tive tanta gente “a meu serviço”, e certamente nunca mais terei.

Acordo cedo, por volta das seis e meia da manhã. Tomo banho, me visto e preparo pessoalmente o matabicho, porque nem a cozinheira, nem ninguém chega antes das oito. Deveriam chegar, mas sempre existem n+1 razões para os infalíveis atrasos. O trânsito, por exemplo.

Pelo caminho mais curto, são três quilômetros de casa até o trabalho. Ou duas horas no engarrafamento. Por vias alternativas, que variam ao sabor dos ventos, dos palpites e da sorte, costumo gastar 45 minutos no trajeto, nos dias bons. Nunca menos de meia hora.

Gosto de almoçar em casa, um luxo. Uma hora e meia para ir e voltar, vinte minutos para almoçar, tirar os sapatos, escovar os dentes e dez minutos para dar uma espichada no esqueleto.

À noite o trânsito é mais complicado, demoro mais. Chego em casa lá pelas 19:30 ou 20 horas. Uma cerveja, um uísque e vou preparar o jantar (a essa hora todos já foram embora). Às vezes é só requentar a sopa, às vezes um pão com queijo e fiambre resolve.

Aos sábados faço supermercado. Verdurinhas frescas nem sempre são fáceis de achar. Quando se acha, são caras. Conversei com o jardineiro para fazermos uma horta, temos espaço. Ele foi muito receptivo à idéia, combinamos tudo: ele prepararia os vasos e se encarregaria de regá-los, já que trabalha na casa todo dia. Eu compraria terra vegetal, adubo, sementes, o que precisasse. Há dois meses. Terra vegetal e sementes compradas procuram vaso para ser plantadas.

Este é o ritmo, este é o esquema. Não é o meu ritmo. Transito por ele, convivo, nem sempre com muito bom humor. Sou apenas hóspede, na vivenda e no país.

Quando vim para cá, trouxe ímãs de geladeira para enfeitar a geladeira da cozinha da minha casa. Na verdade, não tenho uma casa ou uma geladeira para chamar de minha. Os ímãs ainda estão guardados.



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Um amigo procura uma casa para alugar. Prefere as bandas do Benfica. Se alguém puder ajudar, ou indicar um bom corretor de imóveis, agradecemos.
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5 comentários:

  1. M.Jo., acho que vou lhe visitar em Luanda e ficar na sua casa. Talvez eu até plante a horta. Espaço não falta, hem?
    bjs

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  2. Seria possível você postar um texto que fale mais de Luanda, como por ex, quais vantagens de um brasileiro lá... em quanto tempo pode juntar um pé de meia legal e uma curiosidade em particular... como é o jornalismo por aí?

    vlw

    Teka

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  3. Oi, Teka.
    Não estou morando em Angola atualmente, mas recomendo a leitura do Diário da África. http://www.diariodaafrica.com/
    É o blog de um jornalista brasileiro que está em Luanda há dois anos, fazendo um ótimo trabalho. Volta e meia escreve sobre esses assuntos que estão lhe interessando. O blog tem uma respeitável lista de marcadores, tenho certeza de que você vai achar o que procura.
    Um abraço e volte sempre.

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  4. tenho uma casa em aluger no benfica nas mediações do nosso super . ´
    condições da casa : 3 quarto . 1 sala , 2 wc , quintal todo ele agradado , 1 anexo , agua ,energia ,cozinha ,varanda
    para mais informações por e-mail : jackizinho@hotmail.com

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  5. Estou a procura de um local para viver ate julho próximo em luanda. Sou brasileira, jornalista e trabalho pra o Unicef. Aqui em Luanda estou apoiando a campanha de pólio. Vc teria interesse em conversar? ida.pietricovsky@gmail.com

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