Delhi: Vista aérea
Cheguei a Delhi de madrugada, procedente de Istambul, depois de seis horas de vôo. Acertei o relógio: mais duas horas e meia de diferença no fuso. Prá quê essa meia hora, gente?
Estava preparada para o pior: calor, aglomerações, assédio de pedintes, trânsito caótico...
Sem necessidade. De madrugada a muvuca ainda não havia começado.
Apesar do horário, a recepção foi cordial: um “namastê” sorridente e um colar de flores amarelas e cheiro forte. Na verdade eram cravos de defunto, mas tudo bem. Valeu a intenção.
Check-in no hotel, banho, café da manhã, duas horas de descanso e saímos para passear em Delhi. Achei a cidade desorganizada, suja, cheia de obras, tapumes e entulho pelas ruas. Obras de metrô, ninguém merece. A confusão do trânsito me pareceu agravada pela mão inglesa, pelo barulho das buzinas, das muitas motocicletas, tuc-tucs e vacas ambulantes.
A Índia é muito religiosa. já foram contados 300 milhões de deuses, para uma população de mais de 1 bilhão e 100 milhões de habitantes, na sua maioria hindus. Mas existem também muçulmanos, sikhs, jainistas, baha’is, cristãos, budistas e sei lá mais o quê. Todos falam em tolerância religiosa, apesar dos grandes e intensos conflitos que pontuam a história contemporânea do país. Os esquemas de segurança em hotéis e aeroportos são evidentes e muito pesados.
Sociedade pluralista, multi-religiosa, multi-étnica, multilíngue. As notas de rúpia, todas com a efígie do Mahatma Ghandi, são escritas em 15 diferentes idiomas nacionais, além do hindi e do inglês.
A maior parte da população é vegetariana. Quem não é, consome carne de galinha, de cabra, peixe ou carneiro. Não existe carne de vaca exposta à venda no mercado. Só no escondidinho.
As vacas são símbolos de abundância, generosidade e mansidão. Fornecem leite (manteiga, iogurte, etc) e esterco para fertilizar a terra. Quando ficam velhas e não procriam mais, são soltas a esmo. Não podem ser mortas, feridas nem molestadas. São tidas em alta conta. Sagradas. Como não existem pastos disponíveis, buscam alimento fuçando os montes de lixo espalhados pelas ruas.
A sociedade indiana é muito tradicional, e está baseada em um sistema de castas. São quatro castas principais, com uma infinidade de subdivisões e sutilezas tão complicadas que não encontrei ninguém muito disposto a se dar ao trabalho de tentar explicar.
É mais ou menos assim: Brahma é o deus criador. De sua cabeça saíram os brâmanes, a casta mais elevada. São os sacerdotes, filósofos, professores, educadores. Os intelectuais, ligados a atividades espirituais.
Dos braços de Brahma saíram os Xátrias, que são os militares ou governantes. Abrangem todos os administradores e policiais. Dos soldados aos generais.
Das pernas de Brahma saíram os Vaixás, que são os comerciantes, agricultores e pastores.
Dos pés saíram os Sudras, que são os que carregam realmente o piano: artesãos, camponeses, operários, trabalhadores braçais.
Os que saíram da poeira sob os pés de Brahma estão fora do sistema de castas. São os párias, dalits, ou intocáveis. São pessoas ou descendentes de pessoas que violaram códigos de castas, e por isso foram punidas.
Estrangeiros também estão fora do sistema de castas mas, como não são hindus , o assunto nesse particular não costuma ser aprofundado .
As castas são estanques, não há possibilidade de ascensão, pelo menos no transcurso de uma existência. Só na próxima encarnação.
O sistema de castas foi constitucionalmente abolido em 1950, depois de contestado pelo Mahatma Ghandi em nome dos direitos humanos. No entanto, continua tão presente na Índia de hoje que ensejou até a criação de um sistema de cotas para ingresso em universidades e acesso a empregos públicos, muito semelhante ao sistema de cotas raciais que atualmente divide as opiniões dos brasileiros. E igualmente contestado.
Vacas sagadas fuçando lixo
Charme na borracharia, adorei, hahaha!
ResponderExcluirAndou de tuc-tuc? Conta o que vc fez! E o que não fez.
Bjo,
filha cozinheira.