sábado, 7 de novembro de 2009

O Kota Kapipita e as histórias da história


“Quase todas as tardes, um pouco antes do Sol fugir para os lados da Ilha do Mu Sulu, lá estava o nosso Kota Kapipita no quintal da sua casa no Cazenga, rodeado de muitos pioneiros, a contar os momentos mais marcantes da História de Angola, pois a via da oralidade era uma das formas de dar a conhecer o que de melhor e de pior se teria passado noutros tempos. A população em geral, crianças, jovens e mesmo mais velhos, não tem hábitos de leitura. Também não tem livros para ler. Ninguém os incentiva e se procuram, os livros são caros, são considerados, um produto de luxo, continuando, assim, na ignorância e obscurantismo a que foram votados ao longo de vários séculos. O objectivo que mais o animava, era tentar cativar a atenção daquelas crianças para factos relacionados com os seus antepassados, mas, sobretudo, afastá-las do crime, da prostituição e da droga, dar-lhes um pouco de amor e orientá-las para tarefas mais condizentes com a sua idade. ”

É ao redor do Kota Kapipita que se desenrola a trama de “O Crime do Bairro da Cuca”, uma delícia que seu autor, Fernando Baião, teve a generosidade de me enviar de Lisboa, num pacote de três, reagindo positivamente às provocações de X na Casa de Luanda (Obrigada, X!).

Como bom contador de histórias, o Kota Baião brinca com o foco de sua narrativa, de lá prá cá, de ontem prá hoje, variando bocas e alternando o relato do crime ocorrido na época da independência com as histórias contemporâneas da audiência que se reúne para ouvir. O suspense é mantido em rédea curta, afinal crime é crime, e todo mundo quer saber no final quem foi o culpado, e por quê.
Devagarinho, saborosamente, a história de Angola vai se desenredando nas histórias das vidas inventadas de personagens que juramos ter conhecido alguém assim ou parecido. Conhecido ou ouvido falar, não importa. Nada está lá por acaso. Os lugares, os costumes, as mazelas urbanas da cidade degradada, tudo faz sentido.

Depois do “Kimalanga”, o “Crime” me cativou definitivamente. Cheguei à última página prendendo a respiração e com um problema prá resolver. O Kota Baião é figurinha difícil, não se acha nem no Chá de Caxinde. Como garantir lugar na fila do gargarejo para as próximas edições?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Blog está fechado. Obrigada pela visita.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.