Tenzing Gyatso, o 14º Dalai Lama, 14ª encarnação do Buda da Compaixão, líder máximo político e religioso do Tibete, quer se aposentar de suas funções como chefe do governo tibetano no exílio.
A notícia foi divulgada ontem, por ocasião do 52º aniversário da fracassada revolução tibetana, movimento contra a invasão do país pelos chineses, cuja repressão provocou a fuga do Dalai Lama para o norte da Índia e a destruição de incontáveis mosteiros e aldeias.
Desde então, Dharamsala tornou-se a capital de uma ficção, sede do governo paralelo de um Tibete virtual, idealizado, que preza a paz e a tradição budista.
Enquanto isso, no mundo real, o Tibete geográfico experimentou a mão de ferro da revolução cultural maoísta e até hoje está submetido a um forte processo de sufocamento e aculturação.
Pelo menos foi o que senti, quando visitei Llasa no ano passado.
O Tibete da minha imaginação era o Tibete dos livros de Llobsang Rampa e o do filme estrelado pelo Brad Pitt, no papel de um austríaco oportunista. Um Tibete místico, supersticioso, inocente e ancestral.
Esse Tibete não existe mais. Mudou-se. Não está mais onde costumava estar, ao norte da Índia, do Nepal e do Butão, com muito Himalaia e metade do monte Everest na paisagem.
O endereço da antiga Llasa agora está ocupado pela China, que passou o trator, fez a terraplanagem e construiu uma capital turística de avenidas largas e praças monumentais.
Em Llasa tudo é muito chinês: a população, a arquitetura, a decoração, os letreiros escritos em mandarim, as grifes mundiais em versão nacional (HP, Dell, Sony, Sanyo, Louis Vuitton, etc, etc...), os vendedores de quinquilharias.
Polícia por toda parte, vigilância e repressão.
O Dalai Lama, aos 75 anos de idade, deve estar cansado. Dedicou sua vida à causa tibetana, à busca de autonomia para o povo, à preservação da herança cultural, da história e da integridade ambiental do território ocupado. Fez por merecer o Nobel da Paz que ganhou em 1989. Com sua aposentadoria, essas questões correm o risco de perder a pouca visibilidade internacional que ainda possuem.
Tenho vontade de ir a Dharamsala um dia. Se não demorar, talvez encontre por lá um pouco do Tibete que não achei em Llasa.
Mas ainda vou voltar a este assunto.
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