quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Livro livre



Se é que a leitura é mesmo alimento para a alma, eu poderia ser classificada como uma leitora onívora (*). Leio qualquer coisa. O que vou buscar nas livrarias e tudo o mais que me cai nas mãos, incluindo jornais, revistas e internet. Leio até bula de remédio. E gosto.

Meu pai gostava de ler, minha mãe gostava de ler, tios, filhos e agregados gostavam de ler. As pessoas que ainda estão por perto continuam gostando. As que já se foram deixaram livros como herança. Como resultado disso tudo, moro numa casa cheia de livros. Ou morava, melhor dizendo. Tenho estantes de livros grandes nos três quartos da minha casa e na sala de televisão. Foram lotando, lotando, até que as coisas chegaram a um ponto em que não havia espaço para mais nenhum.

Eram eles, ou eu.

Fui obrigada a exercitar o desapego e começar a me desfazer dos livros. Aos poucos, porque doía muito. Esse “aos poucos” , aviso, deve ser entendido com algumas reservas. Funcionava assim: depois de semanas de meditação, oração e jejum, chegava o dia em que eu acordava com o espírito desprendido. Aproveitava para, primeiro, separar os livros que podiam ser doados. Depois, para procurar um destino digno para eles.
E não foi fácil. Procurei por sebos, bibliotecas públicas, escolas. Cansei de ouvir coisas do tipo:

- Doação de livros? Tá. Traga aqui e a gente vê se tem alguma coisa que nos interesse.

Fácil, se são dez ou vinte livros. Complica bastante, se são duzentos ou trezentos. E o peso prá carregar? E o peso no coração? Como é que alguém sai por aí carregando duzentos livros de estimação num caixote, para ver se alguém quer adotar?

Custou, mas foram embora. Distribuídos em lotes de duzentos ou trezentos de cada vez, para sebos, bibliotecas universitárias, bibliotecas comunitárias, presídios, rifas beneficentes, prêmios de concursos culturais, ONGs e sei lá mais o quê. Amigos levaram livros, amigos dos amigos levaram livros, filhos e sobrinhos dos amigos também. Nobres causas, todas.

Hoje, eu e os livros nos entendemos melhor sobre a divisão dos espaços na casa. Sem estresse. Existem as estantes temáticas (livros de consulta), as estantes de estimação e as estantes do acervo temporário. Essas, volta e meia são esvaziadas para permitir renovação.
Esta semana liberei espaço nas prateleiras do acervo temporário. Alguns livros foram para o sebo, outros foram destinados a dois projetos muito interessantes:

1 - Projeto Parada Cultural:

É uma iniciativa do Açougue Cultural T-Bone. Livros são colocados nos pontos de ônibus de Brasília, à disposição dos usuários dos transportes coletivos . As bibliotecas estão instaladas nas próprias paradas de ônibus e emprestam livros a qualquer cidadão sem exigir documentos nem preenchimento de fichas ou cadastros. Os livros estão acondicionados em armários-estante especialmente projetados, em prateleiras abertas. É olhar, pegar e ler. E devolver depois. O projeto já tem mais de um ano de existência, 35 bibliotecas e mais de mil empréstimos por dia.

2 - Livro livre:

Funciona assim: Você lê um livro, gosta (ou não) e o liberta em algum lugar público, como um bar ou banco de praça, para que possa ser encontrado, lido e apreciado por outra pessoa. A idéia é que os livros não possuem donos e constituem patrimônio cultural coletivo. Por isso, devem ser continuamente transferidos para as mãos de novos leitores em vez de guardados em estantes a acumular poeira, relegados à condição de objetos decorativos ou itens de coleção. Alguns sites na internet (esse é um e esse é outro) se dedicam a divulgar o projeto e a cadastrar os livros liberados, para possibilitar o rastreamento futuro. Igualzinho àquelas placas que se colocam nas tartarugas marinhas e nas aves migratórias.

Fica a idéia e o convite, para quem gostar e quiser aderir.


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(*) É mais elegante dizer "onívora" do que "promíscua", concorda? Ou não?


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AGRADECIMENTOS:
Nossos sinceros agradecimentos à C., que ajudou a separar os livros, subiu na escada para alcançar as prateleiras mais altas, telefonou para o sebo, carregou o lote destinado ao Açougue Cultural e se lembrou do projeto do Livro Livre.
Sem ela, nada disso teria sido possível.

4 comentários:

  1. Gosto muito de ler tambem... meu pai não lia nada... minha mãe começou depois que ja eramos grandes, entao o gosto é natural mesmo.
    Acho o maximo a ideia do livro livre, nao sei se na pratica funciona, mas acho muito interessante!!!
    Agora o que me fez rir bastante do post foi a citaçao!!!!

    Beijosss e boas leituras!!

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  2. Bom post. Mas faltaram(me) os créditos. :)

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  3. Coisa linda, esta trama do livro livre!
    E a do açougue eu também adoro, já tem anos. Quem sabe inspira alguma coisa para Santo André...

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  4. Vou corrigir, Filha.
    Carência é fogo!
    bjks

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